sexta-feira, 8 de outubro de 2010

C(S)EM ANOS DA REPÚBLICA

E hoje, nós dois, de que falamos? Estamos para aqui sentados, entre dois cafés, numa noite ainda quente do início do Outono, vendo um luar que cobre de azul o pouco verde da nossa serra, sonhando com um mundo melhor, um mundo onde a cultura pedagógica fosse irmã da memória histórica.

Em silêncio, não nos apetece perturbar os espíritos do burgo com matanças do porco (a da Cerdeira foi a melhor), jantares falhados lá para os lados do S. Paulo, eleições entre Mários e Vitores, crucificação da classe média, dos mais pobres e, milagre com alcunha de socialista, como continuar a enriquecer os mais ricos.

Estamos nas comemorações da República, cem anos, 100 montaditos, e chega-nos à memória uma das figuras indiscutíveis da nossa terra e homem livre com um empenhamento cívico e cultural invejável, Álvaro Viana de Lemos. Residente da república e de repúblicas, este lousanense sempre teve a coragem de exaltar a terra que o viu nascer (já vimos lousanenses renegar a terra que os fez alguém!) e dar largas à sua paixão de divulgar, promover e fomentar, como prioridade indiscutível e inadiável, a cultura popular, a luta pela defesa da educação e da instrução. A grande preocupação da sua vida foi a difusão do ensino. Republicano convicto condenou sem exitações a barbaridade de estrangular a escola, a educação e a promoção do facilitismo. Promotor de uma educação nova que foi duramente reprimida por Salazar, combateu sem tréguas o analfabetismo e a iliteracia.

Uma Aventura teria muito que aprender ainda hoje com Álvaro Viana de Lemos. Não basta dar o seu nome aos agrupamentos de escolas da Lousã para se pensar que foi feito o que ainda está por fazer. Sim porque a Lousã, apesar da extinção deste agrupamento, deveria continuar a dar o nome ao agrupamento de escolas da Lousã ao fundador da Universidade Livre.

É de lamentar que o novo agrupamento tenha 13 escolas, 2700 alunos, não possua a estabilidade necessária, serviços administrativos adequados, espaços físicos capazes, excesso de turmas, poucos recursos humanos a nível dos assistentes operacionais, quase desaparecimento do ensino especial (só na Escola Secundária da Lousã existem 40 alunos com necessidades educativas especiais), encerramento de escolas e falta de um projecto educativo condizente com a nova realidade. Elogiar o corpo docente, manifestar a nossa solidariedade com quem sofre na pele esta “bagunça” que se instalou no Portugal que ainda é “metade Jorge de Brito e metade Jorge de Melo”, é um acto de cidadania. Mas falta fazer a reflexão crítica sobre o que se está a passar, imbuir a intervenção educativa de responsabilidade social, fazer inovação pedagógica e dar sentido ao património de cultura pedagógica que elegemos como nossa.

Reagimos lutando contra os instalados ou mantemo-nos "instalados".

Nós dois é que sabemos mas vamos reagir... Álvaro Viana de Lemos também saberia reagir porque tinha a sublime dedicação na missão de educador.

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