segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

QUANTAS MADRUGADAS TEM A NOITE

Vou-te dizer só e ainda que não há muitas noites sem madrugadas. Estamos juntos nesta viagem em que o nosso objectivo é passar o Cabo das Tormentas e chegar ao Cabo da Boa Esperança. Chegar ao Índico das madrugadas da esperança de um Atlântico onde há gente feliz com lágrimas. Geração da utopia? Sim e não, neste mundo crioulo onde hoje os barak’s se confundem com os obamas da globalização ou mesmo com os mubarak´s das nossas múmias das revoluções planetárias de um face bocas universal.
AdolfoDido, personagem brilhante das noites do linguajar de Ondjaki, dizia com ciência que “
tristezas ávilo, isso e muito mais… o passado, minhas lembranças mesmo, minhas solidões. A vida, muadiês, ainda é um antigamente só, e nós ficamos lá, cada vez mais para a frente vamos, e empurrados, quem, nós mesmos?, nós somos o nosso próprio esquecimento – borracha do futuro a apagar o passado nas ardósias do presente.”
Filosofias, dizes tu que só acreditas que nós dois é que sabemos que ainda, um dia, vamos fazer o que ainda não foi feito. Capacidade de resistir e sobreviver que vamos colorindo dentro das nossas cabeças. Tudo isto e muito mais porque, num fim de semana de Fevereiro, mês em que os heróis quebraram as algemas, houve no nosso Burgo cultura. Lançamento de uma obra literária de Ana Souto Matos, exposição temporária de pintura de de Matos e o concerto da Paz. Tudo com apoio da vereação cultural da Câmara Municipal da Lousã. Avé Hélder Bruno que reconhece que a cultura é um néctar para a alma e para o corpo de quem quer que a sua citânia faça parte dos acontecimentos do mundo.
Acontecimentos umas vezes tristes, outros alegres, e eu não fico indiferente, como afirma Malangatana esse monstro imortal da pintura universal, seja em Moçambique, seja noutra parte do mundo, a dor humana é a mesma. E a minha dor, a nossa dor, é saber que esta cultura é um estranho mimo de um vaso poético cantado pelas vozes da lusofonia de Alberto Oliveira mas antes afirmado por Horácio o poeta, um século a.C.
Diversidades de uma (re)invenção imagética do fantástico em que não há histórias de amor com final feliz mas em que há, para nós os dois, tudo tão infinitamente belo, tão absolutamente infinito, um esplendor intensamente verde e azul. Como gostaríamos que um dia contemplassemos este cantinho à beira mar plantado com os olhos dos poetas e dos pintores. Com os nossos olhos.
Vamos fazer o que ainda não foi feito, abrindo as rubras flores de um subtil lavrado na tinta ardente de um calor sombrio, por contraste à desventura de uns velhos do Restelo que queremos no esquecimento do absolutamente apagado. Queremos as memórias dos dias e das noites da felicidade vivida.