terça-feira, 11 de outubro de 2011

UBUNTU



Entre dois nacos de presunto e um pica-pau regado com algum gindungo, vamos conversando sobre a ganância que invadiu este velho continente europeu e a forma como cada um se tenta salvar mesmo pisando os outros. Corria a conversa quando tu resolves aumentar ainda mais a nossa tristeza e mesmo alguma depressão resolvendo trazer para cima da mesa um mail que te enviaram lá da Senhora da Muxima. Todos atentos fomos ouvindo.

A jornalista e filósofa Lia Diskin, no Festival Mundial da Paz, em Floripa (2006), presenteou-nos com um caso de uma tribo de África chamada Ubuntu.

Contou ela que um antropólogo estava a estudar os usos e costumes da tribo e, quando terminou seu trabalho, teve que esperar pelo transporte que o levaria até o aeroporto de volta para casa. Sobrava muito tempo, mas ele não queria incomodar os membros da tribo. Propôs, então, uma brincadeira para as crianças, que achou ser inofensiva.

Comprou uma porção de doces e guloseimas na cidade, colocou tudo num cesto bem bonito com laço de fita e tudo e pôs debaixo de uma árvore. Aí, ele chamou as crianças e combinou que quando ele dissesse "já!", elas deveriam sair correndo até o cesto, e a que chegasse primeiro ganharia todos os doces que estavam lá dentro.
As crianças posicionaram-se na linha de partida que ele desenhou no chão e esperaram pelo sinal combinado. Quando ele disse "Já!", instantaneamente todas as crianças deram as mãos e saíram correndo em direção à árvore com o cesto. Chegando lá, começaram a distribuir os doces entre si e a comerem felizes.

O antropólogo foi ao encontro delas e perguntou às crianças porque tinham ido todas juntas se uma só poderia ficar com tudo que havia no cesto e, assim, ganhar muito mais doces. Elas simplesmente responderam: "Ubuntu, tio. Como uma de nós poderia ficar feliz se todas as outras estivessem tristes?"

Ele ficou desconcertado! Meses e meses trabalhando nisso, estudando a tribo, e ainda não havia compreendido, de verdade, a essência daquele povo. Ou jamais teria proposto uma competição, certo?
"

Ubuntu significa: "Sou quem sou, porque somos todos nós!"

Atentemos para o detalhe desta estória: a essência de todos nós deveria ser por aquilo que SOMOS, não pelo que temos... Talvez assim a maré alta da crise que vamos tentando vencer fosse mais fácil de ultrapassar se remássemos para o mesmo fim, chegar a porto seguro. Para atingirmos os nossos objectivos comuns é preciso adquirir uma postura ética aprofundada, um respeito por todas as pessoas. Lia Diskin numa entrevista recente dada à revista Super Interessante afirma que “Os maiores obstáculos ao sucesso são a agitação, a dispersão e a superficialidade. No Ocidente, eu me atreveria a acrescentar a preguiça”.

Só nós os dois é que sabemos o quanto é dificil tentarmos fazer o que ainda não foi feito no plano da ética e da igualdade.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A CANTIGA É UMA ARMA



O agora anunciado “Livro Verde” (negro, e não verde se ao conteúdo se
fizesse corresponder a cor) para a reforma administrativa do poder
local constitui um verdadeiro programa de subversão do poder local
democrático, uma nova e mais despudorada tentativa de concretização da
velha ambição dos partidos da política de direita de ajustar contas
com uma das mais importantes conquistas de Abril
.
Entras tu de rompante neste nosso repasto feito de navalheiras e
moelas e nem deixas que te convidemos a tentar ser menos verrinoso,
menos agreste. Sabemos que a tua veia transmontana por vezes te leva,
ainda, a comer fascistas ao pequeno almoço, mas que diabo, atenta lá
aos sacrifícios que o zé tem que passar pois isto é uma maldição pan.
Mas eu e tu já não sabíamos que há muito teríamos de fazer o que ainda
não foi feito? Ou continuas com dúvidas? Claro que acabar com a
autonomia das autarquias e submetê-las a uma dependência e
subordinação como existia no tempo da outra senhora sempre foi um
desígnio dos governos de direita incluindo o partido Socialista.
As propostas da troika colocadas em pé de igualdade com algumas das
propostas deste governo são um doce em pão de água. Quem quer
continuar com um poder local participado, plural, colegial e
democrático com autonomia administrativa e financeira? Não acreditas
que sejam aqueles que sob um manto de falsidades e de formulações
generalizantes pretendem a eliminação da eleição direta das Câmaras e
a imposição de um regime de executivos homogéneos construídos sobre
poderes absolutos e com falta de controlo democrático ao exemplo de
Jardins, Isaltinos, Machados, Felgueiras, Ferreira Torres e outros.
E o povo pá? O povo está cá para provar que a cantiga ainda é uma
arma, pá, e que deve e pode refletir os anseios do proletariado
nacional, nestas alturas de grande crise, pá
! Temos que erguer a nossa
voz e manifestarmos a nossa oposição aos projectos de liquidação do
poder local democrático, de mutilação de princípios constitucionais e
de empobrecimento da vida e do regime democrático. porque já vimos que
este Coelho quer ser mais papista que o papa e agora até propõe, muito
mais que a troika, que quem não trabalhou 18 anos só tem direito a 12
meses de salário. Chiça que isto tá mal e se não intervirmos
activamente para resistir e derrotar estes projectos, reafirmando que,
também pelo que agora se conhece, a rejeição do programa de agressão e
submissão constitui um imperativo nacional, na luta por um Portugal
com futuro.