sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

BOI CAVACO

Lá para os lados da casa dos cafés estávamos nós os dois de ressaca a pensar como é que um algarvio regressa a Belém e como é que cá no nosso Burgo se aderiu a uma nova religião e a um novo deus, o Boi Cote. Claro que tudo por causa da nossa conversa sobre deuses e demónios da sociedade que tão depressa são adorados como logo de seguida queimados na fogueira da nossa indiferença.
Dizíamos nós que o mais venerado e o mais célebre dos animais sagrados no antigamente era, sem dúvida, o boi Ápis, Hep em egípcio. Os antigos egípcios consideravam-no como a mais completa expressão da divindade. Reza a lenda que imediatamente após a tomada de Menfis, Cambises teria sacrificado um touro de nome Ápis, louvado pelos fanáticos como um deus, admirado pelos sábios como um símbolo e cobiçado pelos ignorantes como um boi.
Confessamos já que somos agnósticos e até ateus e por isso, nos tempos que correm, não podíamos sequer louvar o deus das manifestações contra o metro dos doutores da Universidade de Coimbra, o Boi Cote. Como não somos sábios, apesar de termos colocado sempre em dúvida porque é que a linha da Lousã não era electrificada e o material circulante modernizado, também não nos consideravamos ignorantes e por isso não andavamos de braço dado em ruas de Coimbra e Lisboa com quem nunca nos quis bem a gritar palavras sem nexo o Boi Cote ficou sem a nossa adoração. E lá fomos até ao altar das eleições para votarmos para a presidência de um país cansado, desafortunado e equivocado.
Hoje, após a vitória de um Cavaco que foi empurrado para Belém pelos acasos da fortuna e desentendimentos das esquerdas, dizemos que o grande vencedor foi o astuto e velho estadista Mário Soares. Porque não deixou Manuel Alegre brilhar e permitiu que Fernando Nobre lhe servisse às mil maravilhas para uma vingançazinha maquiavélica. Mesmo assim não conseguiu os intentos totais que era Nobre se posicionar à frente de Alegre. Mas verrinosos como somos lá derivamos outra vez para os animais que são divindades e afirmamos a quem nos quer ouvir que cavacos são uma família de crustáceos que se encontram em todos os oceanos de águas quentes e que são caracterizados pelas suas ampliadas antenas que se projectam para a frente da cabela como placas largas. Não são deuses nem deviam ser presidentes dizemos nós.
Porque mesmo o nosso Cavaco não possui estofo nem estilo. Foi o mais inepto Chefe de Estado da democracia apenas com um equivalente, Américo Tomás. Aníbal Cavaco Silva é apagado, baço, desajeitado, inculto sem cura, preconceituoso, desejoso de pequenas vinganças e ódios latentes, representante de um Portugal rançoso, coscuvilheiro, supersticioso e ignorante que tarda em deixar a indolência pimba. É desprovido de ideologia, de convicções, de grandeza e de falta de solidariedade.
Já que não temos metro e muito menos comboio fazemo-nos à estrada pensando que mais cinco anos de malfeitorias e momentos perigosos são um incidente à espera de acontecer, recuperamos o lamento de Alexandre Herculano: “
Isto dá vontade de morrer!