domingo, 10 de abril de 2011

MATA BICHO

Desgraçadamente eu e tu estamos para aqui sem falar, quase sós, sabendo que falta tanta coisa neste burgo que possa ter sentido e seja racional e que, por isso, até os irracionais que ladram e se passeiam na Praceta nos parecem hoje mais tristes, E nós os dois sabemos que este mata bicho que tomamos num repente pode significar tanta coisa… Sim não estamos a beber um gole de aguardente em jejum e que cá na nossa banda se chama de mata bicho, nem estamos a dar um presente, uma lembrança, uma prenda ou uma gorjeta que em Moçambique, Brasil ou São Tomé e Príncipe tem o nome do bicho matado. Estamos mesmo a beber o nosso café da manhã com uma torrada simples, a experimentar a primeira refeição da manhã, a termos o nosso desjejum como o fazíamos na terra que nos viu nascer, Angola, e que também na Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé, se chama mesmo de mata-bicho. Um regionalismo afirmas tu todo sarcástico porque me vais contar a história dos bichos que foram mortos cá por estas bandas mesmo antes de serem adoptados por quem gosta de vida. E nesta história mais uma vez a culpa morreu macaca. Mas eu que gosto mesmo muito da vida, conto-te que afinal mata-cães eram aberturas no chão entre as mísulas que sustentavam as ameias ou os balcões das fortificações mediavais, através da qual se podia observar os atacantes que se encontravam na base da muralha defensiva, agredindo-os com pedras ou outros objetos. Os mata-cães localizavam-se nas partes mais altas das muralhas, nas torres ou noutras fortificações, sobressaindo destas para a parte exterior. Numa de intelectual ripostas tu que Matacães é uma freguesia portuguesa do concelho de Torres Vedras. E assim vamos viajando no autocarro do conhecimento porque o comboio do futuro já era, até à cidade dos doutores. Chegados ao Largo da Portagem vem-nos à memória outro Mata, não de cães mas de outra espécie animal, o Mata Frades. Sim porque Joaquim António de Aguiar, nascido em Coimbra a 24 de Agosto de 1792, político português do tempo da Monarquia Constitucional, foi conhecido por Mata-Frades porque fez publicar uma lei antieclesiástica em que mandava extinguir todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios, e quaisquer outras casas das ordens religiosas regulares, sendo os seus bens secularizados e incorporados na Fazenda Nacional. Por estas e por outras é que teve a alcunha que teve e o dito homem até tem estátua no Largo da cidade. Num rasgo de luminosidade suprema, porque só nós os dois é que sabemos, temos uma ideia a propor ao Regedor do reino da Princesa Peralta e, não fica mal também pedirmos ao Princepezinho Luís, que construa uma estátua, na Praceta cá do Burgo, ao nosso Mata Cães e Gatos. Afinal também queremos ficar no GPS da história, Para que o nosso “herói cão” de matar qualquer coisa não deprima, nem fique psicológicamente na maré de baixo, se a estátua não for erguida com pompa e circunstância, deixamos um osso difícil de roer que não é, nem mais nem menos, um pouco de um poema de um Cão que não foi tétrico, nem frágil, nem de orelhas engomadas, mas um Cão estouvado de alegria, Alexandre O’Neill. Então aí vai para roer até final: cão de pura invenção, cão pré-fabricado, cão-espelho, cão-cinzeiro, cão-botija, cão de olhos que afligem,cão-problema... / Sai depressa, ó cão, deste poema!