segunda-feira, 19 de setembro de 2011

APRENDER A VIDA


Confesso que hoje não estou nem para aí virado para conversarmos sobre muita coisa, das coisas que acontecem ou vão acontecendo neste Portugal e que nos estão a mandar para caminhos muito perigosos, quer em termos económicos, quer em termos sociais, com uma degradação que choca até os mais distraídos. Claro que me seria fácil estar aqui a falar do rei momo da Madeira, um déspota semelhante a qualquer Bokassa dos anos sessenta e que há muito era denunciado até por “amigos” do partido. Não deveria ser por mero acaso que este “folião” que foi devassando e gastando do erário nacional era conhecido pelo “Kopus Night”. E como quase sempre andava toldado pelos vapores do poder foi-se transformando num pequenino ditador e num grande cacique à moda de muitos senhozinhos Malta que pululam nos sertões brasileiros.
Não, sei que não vou por aí, mas tenho alguns recados a dar-te pegando num livro de Flaubert, um persistente estudioso da estupidez humana. Diz ele a determinada altura que “estupidez, egoísmo e boa saúde são as três condições da felicidade, se bem que, faltando a estupidez, tudo está perdido”. É para este caminho que troikas, ratings e muitos dos nossos políticos nos querem empurrar neste turbilhão de crise, o caminho da estupidez.
O que se passava em 1948, contado por Alberto Pimenta no seu livro Repetição do Caos, ainda hoje tem seguidores. Escreve ele que certo dia “O meu pai foi às finanças fazer um requerimento, e como de costume fez questão de que eu o acompanhasse. Para “aprender a vida” Em casa explicou-me minuciosamente a fórmula e o motivo do requerimento. No fim meteu dentro da folha uma nota de cinquenta escudos, e disse-me: “Esta é a parte mágica da fórmula. Quando tiveres um pedido a fazer, já sabes, o segredo é este. Passados uns meses enviei a minha primeira declaração de amor, e como 50 escudos era para as minhas posses, juntei uma moedinha de vinte e cinco tostões. Nunca tive resposta, decerto foi por ser tão pouco”. Anda muita gente neste País a aprender a vida mas raras vezes consegue ser apanhada na teia da justiça.
Mas Mário Henrique Leiria no seu livro Contas de Gin Tónico ainda consegue ser mais verrinoso para com a sociedade deste tempo. Conta ele “Após ter surripiado por três vezes a compota da despensa, seu pai admoestou-o. Depois de ter roubado a caixa do Senhor Esteves da mercearia da esquina, seu pai pô-lo na rua. Voltou passados vinte e dois anos, com chaufeur fardado. Era diretor Geral das Polícias. Seu pai teve um enfarte.
Meu caro amigo há muitos diretores de qualquer coisa neste Burgo lusófono e não precisamos de ir à Madeira beber maus exemplos, ou a Angola, ou ao Brasil. Temos muitos Imperadores que gostariam de ainda serem Dinossauros Excelentíssimos para poderem esmagar este povo que anda a ser espoliado e espremido até ao tutano.
Hoje foi assim porque nem sempre estou assim, raras vezes sou assim!

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

MATUMBOQUEIROS… OU AQUELES QUE VIVEM DA SOCIEDADE DO CUNHACIMENTO



Entras esbaforido a praguejar com tudo e todos, como se nós tivéssemos alguma culpa do estado da nação. Ainda por cima trazes o jornal debaixo do braço e não entendemos se vens descarregar a tua bílis contra nós só porque não estamos mesmo nessa das privatizações. Sabes que por vezes nesta democracia dos ricos apetece estar a cantar canções que nos façam pensar e acordar da letargia em que nos encontramos. Porque somos mesmo nós, os que não somos ricos, que pagamos a crise. Ou tinhas dúvidas? Recordo-te só um pouco dos Vampiros de Zeca Afonso que é mesmo atual: No céu cinzento / Sob o astro mudo / Batendo as asas / Pela noite calada/ Vem em bandos/ Com pés veludo / Chupar o sangue / Fresco da manada.
Mas como eu e tu não pertencemos a nenhum grupo, sejam eles, como tu dizes, matumborizados ou matumboqueiros (aqueles que continuam a ser matumbos mas que pela força do pilim até andam em bando com as suas motas e carros última estampa. Fica já o aviso que nada tenho contra os motoqueiros mas sim por aqueles que assumem uma posição superior só porque cavalgam numa máquina que custa alguns, muitos, euros sem deixarem de pertencer à família dos asininos), então estamos mesmo à rasca. Para esses, os matumboqueiros, não lhes ficava mal visitarem a IX Edição da Feira de Burros – Mostra de Asininos de Miranda que decorreu no dia 4 de Setembro de 2011 na Aldeia da Póvoa (Miranda do Douro). Ficavam a conhecer mais um pouco deste Portugal.
Só nós os dois é que sabemos, não pode ser, não creio que seja assim, que isto vai muito mal. Entre duas cañas estupidamente geladas e loiras bebidas aqui na Sureña, abres-me o dito cujo jornal, Correio da Manhã, e começas a ler-me a quantidade de políticos, ex-políticos, familiares de políticos, amigos dos ditos cujos que hoje estão alojados nas melhores empresas do burgo e que são um autêntico viveiro de emprego para os meninos que terminaram os seus cursos de gestão ou direito e não vão diretamente para o desemprego ou caixas de uma qualquer grande superfície. Dando uma vista de olhos, vejo que se trata de uma investigação superficial pois se fosse mais intensa outros pardais se encontravam. Mas fiquem sossegados que esta não é (PT Portugal Telecom) a única bolsa de emprego do regime. Para que conste, fazem parte dos quadros da PT os filhos/as de: Teixeira dos Santos, António Guterres, Jorge Sampaio, Marcelo Rebelo de Sousa, Edite Estrela, Jorge Jardim Gonçalves, Otelo Saraiva de Carvalho, irmão de Pedro Santana Lopes. E ainda, na empresa ou subsidiária TMN, os filhos de João de Deus Pinheiro, Briosa e Gala, Jaime Gama, José Lamego, Luís Todo Bom, Álvaro Amaro, Manuel Frexes e Isabel Damasceno. Só mais um pouco de democracia, recorrem aos serviços, para pareceres jurídicos, de Freitas do Amaral, Vasco Vieira de Almeida e Galvão Telles. Os colegas destes meninos mesmo com notas de licenciatura superiores trabalham na empresa Desemprego. Perfeita demonstração da sociedade do cunhacimento. Estamos quase a chegar ao “Portugal é bonito e belo, metade do Jorge de Brito, a outra do Jorge de Melo”.