quarta-feira, 25 de maio de 2011

ESTES TUGAS DEVEM ESTAR LOUCOS

Ó lindinho, hoje estamos para aqui a derramar sumo de laranja num choro maluco que mais parece uma tristeza tirada da noite escura em que as fotografias tiradas pelo nosso deus colocaram a Vila no mapa do roteiro político. Dizes tu, ou digo eu, promovendo a saúde que queremos universal e para todos, que bebendo sumo de laranja aumentamos o consumo da vitamina C protegendo o corpo contra doenças do presente e do futuro, vantagens sobre o chá de rosas que só nos trouxe problemas da psique. Já estás tu a adaptar-te aos ventos de mudança e à nova coloração que vai varrer o país no 5 de Junho e para a qual já estás preparado. Mas eu que não vergo e acabei de ler Astérix digo-te que “os tugas devem estar loucos”!

Não que eu e tu não encaremos a vida com optimismo, muita utopia à mistura, mas com enorme realismo, sabendo separar o que é real, o que pode ser autêntico, o que deverá ser justo e o que já foi um sonho. E olhamos à nossa volta, ouvimos os nossos políticos e só os vemos “a empurrar a barriga para a frente”sem saberem que nós queremos muito mais do que nos prometem. Haverá muitos de nós que fará como a avestruz mas muitos mais ainda continuam a ter coragem para resistir. Chegou a hora de varrermos o centralão como nossa opção de vida e de governo. Chega!

Perguntas tu como isto pode mudar se os portugueses, apesar da terrível crise, não mudaram os seus hábitos, não querem mexer no seu estilo de vida, não alteram os consumos, apesar dos problemas que vivemos e aqueles que estão para vir num curto prazo de tempo. Colocar a cabeça debaixo da areia para ver se a tempestade passa nada resolve, seja na forma de estar na vida, seja na participação cívica. Extraordinário é ver como os portugueses, a grande maioria, se comporta como eles não fossem os responsáveis dos seus actos. Como os seus políticos, os políticos da situação, falam como se não tivessem estado 30 anos a (des)governar e não fossem os responsáveis por hoje estarmos de cócoras a pedir 80 mil milhões de euros. Foram eles que durante anos a fio nos disseram que podíamos gastar mais do que tínhamos. E eu e tu só sabemos que não quisemos nem queremos ir por aí.

Estão todos a aproveitar até ao fim enquanto não há laranjada na maioria das mesas portuguesas ou se assista a mais um milagre das rosas, e nós, com o FMI, a dizermos como nos vamos matar até encerrarmos a casa arrombada sem trancas à porta. Estão quase todos a fazer de conta que nada acontece e a assobiarem para o ar uma velha canção,”ó tempo volta para trás” e os outros quase todos a darem uma de democratas a soletrarem a letra da canção do Sérgio Godinho “quando tu me vires no futebol...” E como gostas de dizer, enlouquecemos de vez e à vez.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

FANTOCHES


Toma só atenção ao que te vou dizer pois parece-me importante que penses um pouco no que andamos para aqui a falar e a tentar mudar. Sim, porque tu mesmo afirmas que a 5 de Junho nada muda, tudo está pronto para sermos bons rapazes como os da casa do Padre Américo, que a madame alemã já nos disse como nos temos que comportar, que Portugal já foi um País e até o Afonso Henriques já não tem forças para tanta traição, que já não temos vontade própria e que estamos bem piores que antes de um pec 4


Então chega-me à memória uma das imagens que mais me marcou na minha infância e que ficou para sempre na memória das coisas boas da vida. Aos fins da tarde na praia da Póvoa do Varzim surgiam sempre uns artistas que faziam teatro de luva que divertiam e encantavam a pequenada. Os Robertos maravilhavam tudo e todos. Mostras-me um texto de S.A. Marionetas, D. Roberto, que me traz à memória, não uma frase batida, mas um mundo de sonhos e de encantamentos. É dito ali que “o Teatro de Robertos representa, seguramente, uma das tradições mais antigas das artes cénicas, não só na sua vertente portuguesa e europeia, mas também nos heróis populares do oriente. De facto, a origem desta forma de arte popular de representação remonta, na tradição europeia à Commedia dell' Arte italiana do século XVI e não parece ser improvável que as tradições orientais tenham tido, de alguma forma, influência na evolução deste tipo tradicional de representação. É durante o século seguinte que a deambulação de artistas, principalmente franceses e italianos, proporciona uma miscigenação neste tipo de teatro, estando a sua evolução intimamente relacionada com as especificidades culturais de cada país. Em todo o caso, traços constantes atravessam todas as tradições europeias de heróis populares: o carácter subversivo/burlesco dos textos e representações, a utilização de palhetas que emitem sons estridentes (simultaneamente ideais para captar a atenção do público bem como para realçar a sincronização gesto/som, tão importante na criação de uma aparência de "vida" nos pequenos bonecos de luva) e, por fim, a invencibilidade dos heróis, capazes até de vencer o pior dos inimigos - a morte. Em Portugal, o herói popular chega aos nossos dias com o nome de D. Roberto, apesar de, no século XVIII, várias serem as designações para este teatro de fantoches de luva. A prevalência deste nome está, por ventura, ligado a uma comédia de cordel com grande repercussão, intitulada "Roberto do Diabo" ou a um conhecido empresário de teatro de fantoches, Roberto Xavier de Matos”.


Ainda não pensava eu que em pleno século XXI havia de existir um Roberto a defender as cores do meu clube e que uma das vezes parece burlesco mas na grande maioria do seu trabalho proporciona alegria ao povo. E tu acabas este nosso encontro falando-me de fantoches que não são mais do que uma forma particular de marioneta animada por uma pessoa e que se distingue pela manipulação. Entendes agora porque no período revolucionário, neste Portugal tão belo, tu apelidavas de fantoches a uma série de gente que se portava como marionetas de um qualquer Carlucci ou Mobutu e hoje te apetece não apareceres a 5 de Junho porque os “papagaios” que andam por aí a tentar “vender” tudo e todos não passam de uns fantoches de uma Europa decadente.

Não todos são fantoches, digo eu e dizes tu que sabemos que “Nariz que reconhece o cheiro do pilim/Distingue bem o mortimor do meirim” como cantava José Mário Branco na canção FMI.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

25 do 4 e 1 do 5 - O QUE OS HOMENS SÃO NO FUNDO

Estás tu aí, provocantemente, deliciando-te com um tinto do Douro e perguntando-me onde estão os da terra, que até se passeiam de cravo vermelho ao peito, neste vinte e cinco de Abril. Falas-me da terra da fraternidade, falas-me do que está a acontecer neste cantinho que tu cantas com a tua voz de raiva e que eu digo que muito pouco fazem por ele. Escrevemos com as palavras do pensamento o texto da poesia de quem cantou trovas ao vento que passa mas que não entende como a democracia é diferente quando falas da Líbia, da Síria, do Iémen, da Tunísia, do Egipto. A mesma democracia que tudo perdoa à Arábia Saudita, à Tailândia, ao Kwaite, a Israel. Só sabemos que não vamos por aí.

Se estavas à espera que, enquanto me delicio com um Porto de trinta e sete anos, tantos como os filhos da madrugada reclamam estar em liberdade, falasse de um 1º de Maio em que aqueles que ficaram desiludidos com o que ainda não foi feito, então enganaste-te. És o amigo maior que o pensamento, o amigo que por essa estrada vem, mas que não perco tempo porque o vento é meu amigo também e me diz que só há liberdade a sério quando houver a paz, o pão, habitação, saúde e educação. Falta, afinal, tanta coisa por fazer para que aqueles que em sonhos me visitam deixarem de pertencer à geração da utopia e começarem a construir a democracia participativa. Dizes-me que as ondas do mar são brancas e no meio amarelas e que há quem nasce para morrer no meio delas mas que não consegue viver desse mar salgado porque um Aníbal neste Portugal democrático deixou que a Europa acabasse o ganha pão dos nossos pescadores de barca bela. A mesma senhora que agora nos manda o FEE e mais o FMI para dar “uma esmolinha aos pobrezinhos” mas a troco de deixarmos couro e cabelo nos cofres de uns neo-qualquer coisa cheios de pi-pis de quartzo.

Acima desta pobre gente vimos subir quem tem bons padrinhos, de colarinhos gomados perfumando os ministérios e que se dizem donos de homens sérios. Embora sejam ladrões e puderem roubar à vontade, todos lhe apertamos a mão porque são homens de sociedade. E ninguém lhes vai aos costados. De repente dá-me um desejo enorme de querer fugir, querer ir para o monte porque no monte é que se está bem, onde não veja ninguém. O monte está no cimo daquela serra onde está um lenço de mil cores e que me diz viva. E é aqui que ensino ao meu filho a lavra e a colheita num terreno ao lado das palavras e de nada me arrependo poque só a vida me ensinou a ser um homem novo que veio da mata. Embora os meus olhos sejam os mais pequenos do mundo (ainda me gozas dessa maneira), o que importa é que eles vejam o que os homens são no fundo. E é com António Gedeão e José Afonso que deram alma e corpo a este texto que nós os dois sabemos quem está no 25 de Abril e se mostra solidário no 1º de Maio. Porque nós já vivemos mais de cem mil anos.