segunda-feira, 2 de maio de 2011

25 do 4 e 1 do 5 - O QUE OS HOMENS SÃO NO FUNDO

Estás tu aí, provocantemente, deliciando-te com um tinto do Douro e perguntando-me onde estão os da terra, que até se passeiam de cravo vermelho ao peito, neste vinte e cinco de Abril. Falas-me da terra da fraternidade, falas-me do que está a acontecer neste cantinho que tu cantas com a tua voz de raiva e que eu digo que muito pouco fazem por ele. Escrevemos com as palavras do pensamento o texto da poesia de quem cantou trovas ao vento que passa mas que não entende como a democracia é diferente quando falas da Líbia, da Síria, do Iémen, da Tunísia, do Egipto. A mesma democracia que tudo perdoa à Arábia Saudita, à Tailândia, ao Kwaite, a Israel. Só sabemos que não vamos por aí.

Se estavas à espera que, enquanto me delicio com um Porto de trinta e sete anos, tantos como os filhos da madrugada reclamam estar em liberdade, falasse de um 1º de Maio em que aqueles que ficaram desiludidos com o que ainda não foi feito, então enganaste-te. És o amigo maior que o pensamento, o amigo que por essa estrada vem, mas que não perco tempo porque o vento é meu amigo também e me diz que só há liberdade a sério quando houver a paz, o pão, habitação, saúde e educação. Falta, afinal, tanta coisa por fazer para que aqueles que em sonhos me visitam deixarem de pertencer à geração da utopia e começarem a construir a democracia participativa. Dizes-me que as ondas do mar são brancas e no meio amarelas e que há quem nasce para morrer no meio delas mas que não consegue viver desse mar salgado porque um Aníbal neste Portugal democrático deixou que a Europa acabasse o ganha pão dos nossos pescadores de barca bela. A mesma senhora que agora nos manda o FEE e mais o FMI para dar “uma esmolinha aos pobrezinhos” mas a troco de deixarmos couro e cabelo nos cofres de uns neo-qualquer coisa cheios de pi-pis de quartzo.

Acima desta pobre gente vimos subir quem tem bons padrinhos, de colarinhos gomados perfumando os ministérios e que se dizem donos de homens sérios. Embora sejam ladrões e puderem roubar à vontade, todos lhe apertamos a mão porque são homens de sociedade. E ninguém lhes vai aos costados. De repente dá-me um desejo enorme de querer fugir, querer ir para o monte porque no monte é que se está bem, onde não veja ninguém. O monte está no cimo daquela serra onde está um lenço de mil cores e que me diz viva. E é aqui que ensino ao meu filho a lavra e a colheita num terreno ao lado das palavras e de nada me arrependo poque só a vida me ensinou a ser um homem novo que veio da mata. Embora os meus olhos sejam os mais pequenos do mundo (ainda me gozas dessa maneira), o que importa é que eles vejam o que os homens são no fundo. E é com António Gedeão e José Afonso que deram alma e corpo a este texto que nós os dois sabemos quem está no 25 de Abril e se mostra solidário no 1º de Maio. Porque nós já vivemos mais de cem mil anos.

Sem comentários:

Enviar um comentário