sexta-feira, 25 de março de 2011

HÁ HOMENS QUE TEM OS OUVIDOS NAS COSTAS

Ainda agora aqui chegamos e já me estás a falar que o coelho saído da cartola já anuncia aumento de impostos! Se não tivesse assistido às últimas cenas tristes de uma classe política que é subserviente e se apresenta de cócoras ao poder económico e à especulação internacional, não acreditava. Pensava que estavas em abstinência e que este país desgovernado se tinha mesmo transformado numa jangada de pedra.
Absurdo que todos pensemos que não se pode mudar o sistema. Que todos são iguais e uns mais iguais que outros. Que não há alternativa entre coelhos, portas e sócrates. Irra! Acordemos! Somos nós que mantemos o sistema, cumprindo um contrato eleitoral que fazemos de quatro em quatro anos, sem nunca termos parado para pensarmos. Olha o robot, brincas tu com a situação, e afirmas que na história da humanidade todos os sistemas deram lugar a outros. Afirmo eu que atrás de mim virá quem pior fará.
Mas eu e tu não aceitamos que nos enganem, que aceitemos a busca do conforto a qualquer preço como o fim supremo da humanidade, que seja a indústria farmacêutica a accionista maior da investigação da nossa saúde. Como é possível que gente como Donald Rumsfed queira que haja gripe A para vender o produto da sua indústria? Odiamos gentalha como esta. Não confiamos em quem quer saber e guardar dados sobre mim. Deveriam acabar os paraísos fiscais para que os ricos e delinquentes pagassem impostos como nós. Abominamos a guerra, a publicidade enganosa, empresas como a Yahoo que fornecem dados às autoridades chinesas para permitir a detenção de dissidentes, a mentira dos partidos políticos, a concentração da comunicação social nos grandes grupos económicos, a pena de morte, a versão dos acontecimentos mundiais que nos “metem”, todos os dias, olhos dentro. Asqueroso é a destruição dos bens alimentares, quando sabemos da fome mundial, para que os preços nos mercados não baixem. Horrendo é fazer o massacre de povos, a destruição de países, em nome da democracia quando o que está em causa é o petróleo. Gritamos até mais não contra aqueles que consideram os mais velhos um esterco.
Aceitar este sistema, não aceitamos. E quando podemos damos a nossa facadinha no Sistema. Por isso estamos felizes com a Crise que tanto assusta os acomodados. Os Bancos hão-de falir, as multinacionais hão-de esboroar-se, os políticos hão-de pagar. Tão certo como estarmos a pensar agora. Não sei é se teremos tempo para ver. A caixa de Pandora política abriu-se na Tunísia! O gozo que nos dá ouvir os Obamas, as Merckels, os Barrosos, os Sarkosis deste mundo. Estão mais borrados que recém-nascidos. A Natureza está fartinha de dar sinais. E a maior parte recusa-se a ouvi-la. Como dizia o escriba egípcio: "há homens que tem os ouvidos nas costas; só ouvem quando as coisas lhes caiem em cima".
Aceitamos fazer perguntas, não fechar os olhos a isto e aceitamos a mudança. Se podermos escolher entre fazê-lo já e não sofrer ou fazê-lo mais tarde sofrendo, optamos pela primeira hipótese. E venham mais cinco de uma assentada que eu pago já.

domingo, 13 de março de 2011

A TOURADA DEPOIS DO ADEUS

Falávamos nós se havia alguma alternativa para os tempos que correm e para a falta de pudor de um primeiro que se diz ministro mostrar tanta contradição que até arrepia. Então não foi o dito que durante o debate da moção de censura do Bloco afirmou aos tribunos que a execução orçamental corria sobre rodas e no dia seguinte, sem aviso, descarrila e lança um novo plano de austeridade? Sim é o mesmo Zé que vai sugando a ralé, a geração à rasca, os mais idosos e é bastante generoso para os compadres, os boys e as girls que o vão rodeando e se sentando nas cadeiras de um poder em quem já ninguém acredita. Chame-se o Zé Sócrates, Passos Coelho, Aníbal Cavaco Silva, Durão Barroso ou outro nome estrangeiro.
Isto está mal e vai continuar e eu e tu não somos parvos. A Deolinda é que julga que estamos sempre a adiar e que não fazemos o que ainda não foi feito. Não! A mesma Deolinda tem razão quando afirma que já não podemos mais e que isto já dura há muito tempo. E eu e tu que pertencemos a uma geração que trazia os sonhos de um mundo melhor, um Portugal diferente, solidário e mais igualitário mas que também temos a nossa culpa pelo que se está a passar. Porque deixamos que muitos deles, que andaram connosco nas manifs, nas lutas pá, contra tudo e contra quase todos, estejam hoje de pi-pi de quartzo nos pulsos e com fatinhos bem engomados, sapatinhos lustrosos e gravatas de seda nas cadeiras de uma maioria que dispensa comentários Isto chegou a uma desvergonha que é preciso mesmo estudar para se ser escravo!
Por isso temos alguma malta da nossa geração, comentadores televisivos e alguns paineleiros (que fazem e produzem painéis de opinião) chocados com as manifestações da geração à rasca, dos homens da luta, da Deolinda e de outros movimentos onde eles não conseguem entrar, dar opinião, produzir sentenças ou controlar consciências. Para mudar é que nós estamos cá e mesmo depois do adeus, da tourada, do cavalo à solta e de quem faz um filho fá-lo por gosto a nossa grândola vila morena é contra a geração estabelecida, os velhos do Restelo, as tias das beneficiências nos casinos, os maninhos que seguem o rumo da gestão escabrosa, dos boys e girls das jotas que esperam vez para chegarem ao estrelato que está a chegar ao fim.
Depois de acordar, o povo pá já não canta que pertence à geração sem remuneração e que não se incomoda com esta situação. Estamos eu e tu, e não só nós os dois, muitos milhares, a fazer democracia e liberdade. Só queremos uma vida melhor. E não julguem os boys e girls cá do Burgo que estão a salvo. Porque se já não se ouve o cantar dos grilos no campo ouve-se os silêncios dos que não conseguem ignorar as facadas do tempo, a areia entre os dedos, o sobressalto. Parvos não somos!



quarta-feira, 2 de março de 2011

VIVER SEMPRE TAMBÉM CANSA

Estava eu a pensar agora em ti, e tu aqui na musa doce a falares azedo daquilo que já sabemos, já conhecemos, já entendemos mas que precisa de ser gritado para ser feito o que ainda não foi feito. Comentavas tu que tinhas estado na recepção que os tribunos e o Zorba tinham proporcionado a Sua Alteza a Sheikha Dra Hind Al Qassimi. Pois nunca se viu tanta paixão pelo petróleo mesmo quando a tenda do líder está a arder e o tal ouro preto atinge valores incomportáveis para as bolsas dos contribuintes. Falou-se durante a visita de plataformas, de Magalhães, e ainda ficamos na esperança que a tal plataforma seria a do petróleo e que Sua Alteza iria proporcionar uma dita no Parque do Burgo para consolo de quem já anda a ser espoliado até ao tutano por skeikes malaicos de um Portugal de muitos magalhães que dão de frosques quando o barco está a afundar. Mas não. Serviu tão só para umas visitas a uma escola com nome de santa católica o que pode ter causado problemas diplomáticos a quem convida a realeza muçulmana, uns jantares com vinho escondido, sem porco por perto, e um role de promessas que nestas ocasiões sempre existem. Foi o que lemos na Caras cá da Vila e como não somos de intrigas só queremos dizer shukrane Sua Alteza por tão prestimosa visita.

E lá continuamos a falar de gente real que sofre, que chora, que foi rainha, que é esquecida por um povo que gosta de ter mártires, que foi grande e que é posta na prateleira do esquecimento por quem um dia a bajulou e se serviu da imagem para tirar dividendos e até fotografias para colocar numa parede de um gabinete ministerial. Este fel todo por causa de uma reportagem que passou numa televisão perto de nós e que nos trouxe à memória os feitos enormes de uma campeã olímpica, mundial e de coerência que se chama Albertina Dias. E se já tínhamos visto grandes campeões cá e lá fora passarem de americanos a jamaicanos, de reis a escravos, a venderem as medalhas que conquistaram com muito esforço e dedicação por tuta e meia de euros também é verdade que vemos gente que teve a habilidade de passar a palma da mão pelo pó do poder e leva uma vida de bem-aventurança e de boa pança. Os mesmos que aplaudem os nossos heróis e que se esquecem deles logo de seguida.

Albertina Dias vive momentos longe dos títulos que ganhou, derrotada pelo país que a idolatrou, amaldiçoada por quem lhe bateu palmas depois de mostrar osso, músculo e nervo em campeonatos do mundo de corta mato, jogos olímpicos, campeonatos europeus, injuriada por políticos canhestros de mendicidade material, intelectual e moral e que um dia lhe teceram os mais belos discursos. Com uma lágrima ao canto do olho, porque está ferida fruto de um tombo provocado por um vagalhão em tempo de borrasca assim é, hoje, a nossa Albertina. E tudo isto, talvez, porque um dia ao chegar carregada com mais uma medalha de vitória ao nosso aeroporto alguém, das nossas televisões, lhe perguntou “que homem admira neste País?” e com desassombro respondeu “o Dr. Álvaro Cunhal”. Mas a campeã saberá levantar-se e vencer mais uma vez.

Por estas e por outras é que muitos admiram Hind Al Qassimi que ninguém saberá muito bem quem é e outros preferem morrer de pé a viver toda a vida de cócoras. Mas desistir não é próprio destes últimos como não é o lema de Albertina Dias mas é preciso explicar, e mais uma vez, aos menos atentos quem foi Albertina Dias e Álvaro Cunhal, por muito que custe a alguns democratas da citânia travestida de cidade. Renunciamos ao Futebol, Fado e Fátima porque sabemos, eu e tu, que uma pátria que não respeita os seus melhores, não é boa terra e, por isso, José Gomes Ferreira disse “viver sempre também cansa”. Então eu e tu às vezes interrogamo-nos: - que estranho país é este, que exige que se abdique, para se ter paz?