quarta-feira, 2 de março de 2011

VIVER SEMPRE TAMBÉM CANSA

Estava eu a pensar agora em ti, e tu aqui na musa doce a falares azedo daquilo que já sabemos, já conhecemos, já entendemos mas que precisa de ser gritado para ser feito o que ainda não foi feito. Comentavas tu que tinhas estado na recepção que os tribunos e o Zorba tinham proporcionado a Sua Alteza a Sheikha Dra Hind Al Qassimi. Pois nunca se viu tanta paixão pelo petróleo mesmo quando a tenda do líder está a arder e o tal ouro preto atinge valores incomportáveis para as bolsas dos contribuintes. Falou-se durante a visita de plataformas, de Magalhães, e ainda ficamos na esperança que a tal plataforma seria a do petróleo e que Sua Alteza iria proporcionar uma dita no Parque do Burgo para consolo de quem já anda a ser espoliado até ao tutano por skeikes malaicos de um Portugal de muitos magalhães que dão de frosques quando o barco está a afundar. Mas não. Serviu tão só para umas visitas a uma escola com nome de santa católica o que pode ter causado problemas diplomáticos a quem convida a realeza muçulmana, uns jantares com vinho escondido, sem porco por perto, e um role de promessas que nestas ocasiões sempre existem. Foi o que lemos na Caras cá da Vila e como não somos de intrigas só queremos dizer shukrane Sua Alteza por tão prestimosa visita.

E lá continuamos a falar de gente real que sofre, que chora, que foi rainha, que é esquecida por um povo que gosta de ter mártires, que foi grande e que é posta na prateleira do esquecimento por quem um dia a bajulou e se serviu da imagem para tirar dividendos e até fotografias para colocar numa parede de um gabinete ministerial. Este fel todo por causa de uma reportagem que passou numa televisão perto de nós e que nos trouxe à memória os feitos enormes de uma campeã olímpica, mundial e de coerência que se chama Albertina Dias. E se já tínhamos visto grandes campeões cá e lá fora passarem de americanos a jamaicanos, de reis a escravos, a venderem as medalhas que conquistaram com muito esforço e dedicação por tuta e meia de euros também é verdade que vemos gente que teve a habilidade de passar a palma da mão pelo pó do poder e leva uma vida de bem-aventurança e de boa pança. Os mesmos que aplaudem os nossos heróis e que se esquecem deles logo de seguida.

Albertina Dias vive momentos longe dos títulos que ganhou, derrotada pelo país que a idolatrou, amaldiçoada por quem lhe bateu palmas depois de mostrar osso, músculo e nervo em campeonatos do mundo de corta mato, jogos olímpicos, campeonatos europeus, injuriada por políticos canhestros de mendicidade material, intelectual e moral e que um dia lhe teceram os mais belos discursos. Com uma lágrima ao canto do olho, porque está ferida fruto de um tombo provocado por um vagalhão em tempo de borrasca assim é, hoje, a nossa Albertina. E tudo isto, talvez, porque um dia ao chegar carregada com mais uma medalha de vitória ao nosso aeroporto alguém, das nossas televisões, lhe perguntou “que homem admira neste País?” e com desassombro respondeu “o Dr. Álvaro Cunhal”. Mas a campeã saberá levantar-se e vencer mais uma vez.

Por estas e por outras é que muitos admiram Hind Al Qassimi que ninguém saberá muito bem quem é e outros preferem morrer de pé a viver toda a vida de cócoras. Mas desistir não é próprio destes últimos como não é o lema de Albertina Dias mas é preciso explicar, e mais uma vez, aos menos atentos quem foi Albertina Dias e Álvaro Cunhal, por muito que custe a alguns democratas da citânia travestida de cidade. Renunciamos ao Futebol, Fado e Fátima porque sabemos, eu e tu, que uma pátria que não respeita os seus melhores, não é boa terra e, por isso, José Gomes Ferreira disse “viver sempre também cansa”. Então eu e tu às vezes interrogamo-nos: - que estranho país é este, que exige que se abdique, para se ter paz?

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