quarta-feira, 27 de outubro de 2010

RIDENTE TORRÃO DE MALANDROS

Percorremos as ruas do nosso burgo e nós os dois vamos falando da situação real do País pedindo aos deuses que nos ajudem a perceber o que se passa neste cantinho à beira mar plantado. E nos silêncios dos passos ouvimos um coelho sussurrar a um vistoso grupo de economistas, sábios pois claro, que isto vai mal e a culpa é do filósofo engenheiro que se quis armar em primeiro-ministro. Seja, mas...
Somos atropelados no nosso pensamento pela voz dos mais inquietos que afirmam à boca cheia que não acreditam em nada e em ninguém e que eles, os coelhos, os filósofos, as portas, as louças, os jerónimos e os sábios estão lá para se encherem.
E caminhando nas tortuosas vielas por onde caminham os ditos sábios que murmuram a sua atroz ignorância e a sua melancólica indiferença, sai-nos ao caminho das lembraduras José Régio que no início dos anos de 59 do século passado escrevia com a caneta das agruras que: “surge Janeiro frio e pardacento, descem da serra os lobos ao povoado, assentam-se os fantoches em S. Bento e o Decreto da fome é publicado”.
Este é o sentimento geral e a triste realidade para 2011. Impotentes mas resignados, todos vociferamos contra o rotativismo do poder disputados entre dois partidos, sempre e apenas porque estamos acomodados ao fado que nos traçaram, e que, já sabemos, devido à péssima qualidade intelectual dos intervenientes, dividem o poder entre eles, substituem-se nos lugares de chefia da administração pública e das empresas, aumentam os seus vencimentos à sua vontade e auferem subsídios e mordomias escandalosas. Não é inveja, rancor ou maledicência de nós os dois. Vem nos jornais e factos são factos.
E os coelhos e filósofos deste Portugal amordaçado mais os santos sábios dizem, uns para os outros, o que querem saber e são incapazes, falta-lhes a lucidez da clarividência, de escutar e ouvir vozes dissonantes e opiniões divergentes que lhes permitissem olhar para esta selva de uma forma mais clara e mais acertada. Mas todos eles, os ditos sábios que enganam o zé e percorrem os passos perdidos pertenceram a governos que nos impuseram o que de pior nos tem acontecido, auferem reformas de luxo, mais que uma claro, debitam no horário nobre das televisões lições salvadoras e patrióticas e, por muito que se esforcem, não dizem coisa alguma de importância.
São eles que nos receitam sempre os mesmos remédios para superarmos a crise: cortes nas despesas da educação e saúde, da segurança social, cortes nos salários da função pública, supressão do décimo terceiro mês, aumento dos medicamentos, redução nas reformas, e, eles, continuam a encher-se como afirmam os inquietos e os desacreditados, a enriquecer rápido e a arrogarem-se de salvadores da pátria.
Já não é só desacreditante, é sórdido. E compete aos cidadãos deste País fazer o que ainda não foi feito. Varrer o cantinho à beira mar plantado combatendo a indiferença, a ganância dissimulada, o luxo encoberto para que Portugal não continue a ser para muitos, como escreveu João de Barros, o “país padrasto e pátria madrasta” e para os que se ajustam “ridente torrão de malandros” como afirmou Filinto Elísio nas Sátiras. Ai Portugal, Portugal...
Ainda tivemos tempo de perguntar ao filósofo Sócrates, que estava de saída da cidade proibida se sabía onde estava a crise e ele respondeu-nos "só sei que nada sei"!

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