segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O MARIMBONDO E O SEU AMIGO TYITWITWI




Que dia fantástico! Estamos a degustar o melhor bife das redondezas, afirmas tu, ou terás dito o melhor bife de Portugal, no Paddock, quando resolvemos encaminhar a conversa para as ajudas económicas da Europa aos mais “pequenos”, da solidariedade, do voluntariado e do que de mais difícil poderá acontecer em 2012. Lamúrias que nos levam a falar desta citânia, da tentativa da Alemanha em tomar conta do continente sem disparar um tiro, da crise de valores e, num minuto, conto-te a estória do marimbondo e do peito celeste, contada há muito por um kota à beira da fogueira, debaixo da mulemba, lá longe na terra da Muxima, e que nos deixa a pensar que devemos ajudar e sermos ajudados mas sem nos matarmos. Reza assim:

O Marimbondo andava muito preocupado porque o seu filho primogénito adoeceu e perdeu a alegria de voar. Levou-o a todos os médicos da região mas ninguém conseguiu descobrir a sua estranha doença. Já desesperado, levou o jovem a um adivinho que depois de uma consulta cuidadosa disse ao pai:
- Para o teu filho ficar bom tens de procurar uma pena do Tyitwitwi e depois passa-a pelo seu corpo. Vais ver que ele fica bom.
O pai Marimbondo encontrou um simpático peito celeste cantando alegremente no alto de uma omu-tya.
- Tyitwitwi, o meu filho está gravemente doente e o adivinho disse que a doença passa, se eu o afagar com uma das tuas penas.
O peito-celeste arrancou com o bico uma pena e deu-a ao pai Marimbondo. Quando ele chegou ao ninho, passou-a pelo corpo do filho e ele ficou logo bom, saindo a voar em alta velocidade.
Um dia o filhinho do Tyitwitwi adoeceu gravemente e ele levou-o ao adivinho. O oráculo dele foi este:
- Procura uma asa de marimbondo, passa-a no corpo do teu filho, que ele fica imediatamente bom.
O pai Tyitwitwi foi ao ninho do Marimbondo e disse-lhe:
- Amigo, o meu filho está gravemente doente e o adivinho disse que ele só fica curado se passar uma asa de marimbondo pelo seu corpo.
O Marimbondo ficou com ar pesaroso e respondeu:
- Tyitwitwi, não posso dar-te uma asa porque só tenho duas e se arrancar uma, nunca mais consigo voar.
O pai Tyitwitwi ficou muito triste e voltou para o ninho. O seu filhinho agonizava e acabou por morrer.
O Tyitwitwi regressou ao ninho do Marimbondo e disse-lhe:
- Não me deste uma asa e o meu filho morreu. A partir de agora acabou a nossa amizade, corto relações contigo porque és egoísta. Eu salvei o teu filho com a minha pena, mas tu recusaste dar vida e saúde ao meu filho com a tua asa.
O Marimbondo ficou muito triste porque o seu amigo não compreendeu que ele não podia sacrificar a sua asa, porque sem ela nunca mais voava e acabava por morrer. Devemos socorrer o próximo sempre que ele precise de auxílio, mas dar o que é essencial para a nossa vida, não pode ser.
O Marimbondo disse ao Tyitwi-twi:
- Nunca me peças uma asa, porque não posso morrer no lugar dos teus filhos ou de ti. Mas podes pedir-me tudo o que não seja a minha vida. E para te provar a minha amizade, quando puseres ovos no ninho, eu e a minha família vamos ficar ao lado a zelar para que nada lhes aconteça.
É por isso que desde então, onde houver um ninho de Tyitwitwi há ao lado um ninho de marimbondo, para pagar a dívida de gratidão que não foi possível pagar com a asa que ia salvar o passarinho doente
”.

Mesmo doentes, os portugueses devem pedir tudo, não devem é dar a asa que os pode matar. Fico a saborear um Camolas tinto que me faz viajar no tempo e recordar os Trovante e uma canção que me avisa que “Há sempre alguém que nos diz: tem cuidado / Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco / Há sempre alguém que nos faz falta / Ahhh, saudade”.

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