domingo, 13 de novembro de 2011

ASSATA SHAKUR


Penso que hoje estás mais com aquele ar de mudança de quem pretende acabar com o virus da ópera bufa da democracia. Não me parece que tenha que ver com a feira da castanha e do mel e com um tal Julio Isidro que se calhar nem sabe que existem alguns homens da cultura no nosso burgo e que não seria preciso trazer tanto pimba de longe. Ou será mesmo que andas preocupado de o reinado ter passado de Carvalho para Antunes? Sim sei que estás contente pela saida do último ditador do mediterrâneo, um tal Berlusconi, que não resistiu ao virus que eliminou Zine El Abidine Ben Ali, Muamar Muammad Abu Minyar Gaddafi ou Muhammad Hosni Said Mubarak. Mas para quem se chama Silvio e faz brincadeiras bunga-bunga a sua saída não faz mais do que alegrar o povo e até põe os sinos a repenicar de alegria.
Mas não foi para isso que viemos aqui beber uma jeropiga e saborear umas castanhas com mel. Trazes o jornal e contas-me a estória de Assata Shakur. O que não sabes é que a democracia nada permite ou quase nada aceita se não for para se defender a ela própria. E então quando é o império americano a mandar ainda ficas mais a dizer-me “diz-me como te chamas… e dir-te-ei quem és”. O facto passa-se em Itália e com o futebol. A Federação Italiana de Futebol quer suspender a euipa de futebol que disputa a terceira divisão e que se chama Assata Shakur. Ou o clube muda o nome ou acaba para o futebol da democracia. E porquê? Porque este clube de Ancona, que nasceu em 2001, resolveu ter como lema a promoção do desporto como um direito para todos. E para tal compromisso exigia-se ter um epíteto à altura e para tal adotou o de uma heroína afro-americana foragida. Ativista dos anos 70 e lutadora contra o racismo, militante do movimento Panteras Negras, Assata Shakur, ou melhor Joanne Chesimard de seu nome verdadeiro, é considerada desde 2005, nos Estados Unidos, uma “terrorista interna”.
Perseguida por causa da sua ideologia política, esta militante de esquerda de 64 anos de idade, foi acusada, e presa em 1973, por ter assassinado um polícia. Fugiu em 1979 e foi condenada num julgamento polémico embora tenha sempre afirmado a sua inocência. Viva atualmente em Cuba onde pediu asilo político. Afinal também há americanos que, por motivos políticos, também pedem ajuda a outros países para poderem viver em liberdade. Em Nova York não há nenhuma equipa de soccer ou de basquetebol que se chame Assata Shakur mas os apoiantes desta senhora são incontáveis.
Aprendemos a voar como os pássaros e a nadar como os peixes, mas não aprendemos a viver como irmãos”. Palavras de Martin Luther King e que é o lema da associação Polidesportiva Assata Shakur de Ancona. E como tu andas a magicar nas palavras do Bento XVI que afirmou que “todas as crianças batizadas se tornam filhas de Deus, a começar pelo nome cristão”, ficas assim como uma navio à deriva com dores que o tempo não consegue apagar. E pedimos desculpa por esta interrupção mas a democracia segue dentro de momentos, assim mesmo sem sabermos fazer nada do que ainda não foi feito.

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